Cresce cruzamento de Sindi com base em rebanhos com controle leiteiro Foto: Rodrigo Gregório
Cresce cruzamento de Sindi com base em rebanhos com controle leiteiro Foto: Rodrigo Gregório
Cresce cruzamento de Sindi com base em rebanhos com controle leiteiro Foto: Rodrigo Gregório

Cresce cruzamento de Sindi com base em rebanhos com controle leiteiro

A importância do Controle leiteiro e de medir para comprovar

Testes estimulam a adoção do cruzamento com raças especializadas

O controle leiteiro é essencial para as fazendas. Entre outros quesitos, ajuda a identificar os melhores animais e estimar a produção média do rebanho, comparando-a ao longo do tempo. Assim, auxilia os criadores a produzirem mais e melhor!

Mylene Abud

O rebanho da Empaer (Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária), antiga Emepa, é reconhecido como um dos pilares do Sindi não só no Nordeste, mas em todo o país, sendo referência em aferição da produção e melhoramento genético. O nome mudou, mas o trabalho de excelência continua com o mesmo padrão. E um de seus pilares é a realização de um programa extenso e abrangente de controle leiteiro, que colabora para comprovar a consistência da raça na produção e aponta caminhos para o futuro da pecuária.

Ferramenta que afere a capacidade de produção de leite total das vacas na lactação, o controle leiteiro é de fundamental importância para o sucesso do negócio de pequenas a grandes fazendas, pois apresenta dados técnicos para a tomada de decisão. De posse das informações geradas, o produtor consegue identificar os melhores animais do rebanho, selecionar os superiores e descartar os ruins; reorganizar os lotes de acordo com a produção de leite; adaptar a dieta; estimar a produção média, além de compará-la ao longo do tempo. E, com isso, ser capaz de produzir mais e melhor!

“O controle leiteiro é fundamental para conseguirmos obter dados que possam entrar nos programas de melhoramento”, afirma Ricardo Leite, pesquisador do Empaer e coordenador da Estação Experimental Alagoinha, centro de excelência na área de estudos das raças zebuínas leiteiras. O centro conduz essas provas com o Sindi desde 1996, sem interrupção. “E esse é inclusive o nosso papel, como empresa de pesquisa: gerar dados que possam ser usados pelos produtores”, explica, citando entre essas informações coletadas o PTA, medida do mérito genético de um touro para características de produção. Para a produção de leite, o PTA estima quantos quilos a filha de um touro provado poderá produzir a mais do que a média das filhas dos outros touros provados. 

“O Controle Leiteiro do Sindi realizado no nosso rebanho tem como objetivo conhecer o potencial de cada matriz através de suas produções e escolher, dentro dos seus produtos, reprodutores que serão futuros melhoradores da raça”, acrescenta o pesquisador Rômulo Pontes de Freitas Albuquerque, responsável pelos estudos com o rebanho Sindi da Estação Alagoinha. 

 

Santuário da raça

Do rebanho da Emepa/Empaer já saíram vários animais líderes na produção de leite e em acurácia. “Aqui sempre foi o berço da raça. Acho que o rebanho da Emepa é o único, em termos de genética, que está presente em 100% de todos os rebanhos do Brasil. Não atualmente, mas se você pegar qualquer rebanho que seja, se não tiver animal que foi Emepa, vai ter descendente. Teve um avô, um bisavô, algum animal produzido aqui em Alagoinha”, afirma Ricardo Leite. 

“Dentre os reprodutores que se destacaram em acurácia, tanto para leite como carne, tivemos: VELUDO-E, OFICIO-E, HIADE-E, BANDO-E, GAMÃO-E, MARIBONDO-E, SUDÃO-E, SUSPIRO-E e os seus descendentes. E matrizes com produções acima de 3.000 kg de leite a pasto, como JARANA-E, RUTINA-E, FLAMULA-E, FESTA-E, GRAUNA-E, HECLA-E, entre outras mais”, prossegue Rômulo Albuquerque.

Para se ter uma ideia da importância, entre os animais citados, a JARANA-E foi recordista mundial de produção de leite, com média de 22 kg/dia. O VELUDO-E, filho do SUDÃO-E, maior PTA leiteiro da raça, e o SUSPIRO-E, que, entre outras virtudes, é pai da BELGA FIV AJCF, Grande Campeã do torneio leiteiro oficial da 60ª EXPO Rio Preto e tetra recordista mundial de produção, com média de 49,250 litros de leite e pico de 50,200. 

“Nossos animais pesam em média 750 kg para os machos e 400 kg para as fêmeas. Isso é uma genética que se adapta ao semiárido, produzindo leite e carne o ano todo. Diferente de outros animais da raça Sindi do Sudeste quanto ao porte, hoje existe uma grande procura de todas as regiões do Brasil pela nossa genética”, salienta Rômulo Albuquerque. 

Atualmente, a Empaer participa do programa PGMZ Max Leite, tanto da raça Sindi quanto guzerá, e os animais são alojados na Estação Experimental de Alagoinha. 

Preservar o passado de olho no futuro da raça

No presente, segundo os dois pesquisadores, o foco da Empaer é fazer um trabalho de preservação da genética Sindi descendente do Paquistão. “Nosso objetivo não é mais bater recorde de produção de leite. Já batemos vários recordes, já ganhamos vários prêmios, mas depois chegamos à conclusão de que participar desses torneios leiteiros de curta duração é mais para o produtor privado da fazenda.  Nosso trabalho é de média e preservação da raça, principalmente daquela linhagem da importação de 1952. E repassar aos criadores tourinhos que irão melhorar a genética de seus rebanhos”, ressalta Rômulo Albuquerque.

“Nosso principal objetivo é a manutenção da genealogia antiga, principalmente do gado que veio com Felisberto de Camargo, que foi um herói, teve aquela saga toda em Fernando de Noronha, e esse gado depois foi para o Pará. Coincidentemente, meu pai, Paulo Roberto Miranda Leite, na época diretor da Emepa, conseguiu trazer uma parte desse rebanho para o estado da Paraíba nos anos 1980”, completa Ricardo Leite. O gado inicialmente foi para a estação experimental de Riacho dos Cavalos, no sertão. Depois, encaminhado para Alagoinha, onde permaneceu e se adaptou perfeitamente à região de transição de agreste, porém muito seca. “Nossa principal função como órgão público é manter essas linhagens, essa raça com pureza racial, que é muito adaptada às nossas condições de clima aqui do Nordeste. O Sindi é fundamental para o desenvolvimento da pecuária local, tanto puro como através dos seus cruzamentos, seja direcionado para leite ou para corte”, resume. 

 

O Sindi entrega tudo!

A criadora Mônica Angeletti procurava um touro que pudesse cobrir as vacas Jersey das fazendas de Teresópolis/RJ e de Lima Duarte/MG sem dar problemas de parto. Ao pesquisar entre as diversas raças, descobriu o Sindi e adquiriu o seu primeiro touro. “Foi amor à primeira vista. Fui observando a docilidade, conhecendo a raça e me apaixonando. E resolvi comprar umas vacas para dar início à criação”, conta a proprietária do Sindi Canto da Mata. 

“Primeiramente, comecei a usar o Sindi nas Jersey para aproveitar melhor os bezerros, pois minha região não é leiteira. Logo depois vi que, no futuro, o Sinjer seria meu novo plantel por se tratar de vacas mais resistentes a doenças, mais rústicas, e que também dariam um bom leite”, pontua. Em seguida, buscou por um touro de repasse de aptidão leiteira e começou a inseminar as vacas Jersey com o Sindi. E o resultado a deixou encantada. 

“O Sindi imprime muito suas características no Sinjer. Cor, docilidade, musculatura. A heterose é maravilhosa! São animais rústicos, resistentes a doenças e carrapatos, e com uma conversão alimentar espetacular. Não me dão trabalho algum, só alegria”, elogia Mônica, que vende os bezerros para recria e mantém as fêmeas no plantel leiteiro. 

O trabalho com o Sindi e seus cruzamentos é recente na propriedade. “Meu plantel ainda é pequeno. Tenho 23 animais PO, 45 receptoras Sindinel, já com Fertilização in Vitro, aguardando DG (Diagnóstico de Gestação). Em 2023, fiz investimentos em doadoras e, agora, estou trabalhando para criar um rebanho com o melhor da genética do Sindi e apostando na criação de Sinjer também”, revela.

O projeto com o Sinjer no criatório começou em 2022 e os bezerros mais velhos nasceram há um ano. “Ainda não tenho resultados de gestação, parição e leite, mas tenho de heterose. São animais maravilhosos, rústicos, mega mansos, muito bons de lidar.  Zero carrapato, zero tristeza parasitária, zero problema. É tudo de bom com a bezerrada!”, ressalta. 

No criatório, há vacas Sindi que atualmente dão 10 litros de leite. Mas a grande aposta para a produção da propriedade é o Sinjer. “A meu ver, o Sinjer vai se tornar uma raça leiteira rústica, para aqueles produtores que preferem aumentar seu plantel a ter doenças. As vacas Jersey e holandesa são muito sensíveis. E o Sinjer veio para brigar com o mercado da girolanda. Sua rusticidade e o leite A2 de qualidade com alto teor de sólidos agradam demais”, conta Mônica, cuja ideia é formar um plantel de vacas Sinjer 1/2 e 3/4.

E, assim que concluir as obras para melhorar a estrutura na fazenda, que incluem um curral novo para o Sinjer, pretende começar a fazer o controle leiteiro. “Precisamos medir para podermos melhorar o nosso plantel. Por isso, esse controle é mega importante, nos permite verificar os ganhos genéticos dos cruzamentos e do nosso trabalho de melhoramento”, declara. “Estou investindo na raça e em seus cruzamentos porque acredito nela. E quem cria, se apaixona. O Sindi vai crescer muito no Brasil nos próximos anos”, conclui Mônica Angeletti.

 

Por Márcia Benevenuto

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